Análise de Videoverse no eShop do Switch

Os videogames são bons. A internet também é. Com a correria do dia a dia, às vezes esquecemos disso, mas “Videoverse” — a segunda visual novel da Kinmoku — vem para nos lembrar do impacto das comunidades online e das amizades que formamos jogando. E, vou te dizer, é a representação mais fiel da vida virtual dos anos 2000 que já joguei.

A história se passa em 2003 e acompanha Emmett, um garoto alemão de 15 anos que é fã da sua Kinmoku Shark, um console fictício que é como um Nintendo DS de mesa. Ele passa o tempo jogando “Feudal Fantasy”, um game que um amigo online recomendou. Além disso, ele se conecta na Videoverse, uma plataforma social parecida com o que foi o MySpace. Imagine algo como o Steam, mas mais estiloso, com avatares em pixel art e esquemas de cores em duas tonalidades.

A maior parte do jogo acontece na Videoverse, onde Emmett conversa com os amigos sobre jogos, e os usuários postam mensagens e desenhos, algo muito parecido com os antigos fóruns. Lá, você pode responder mensagens, “curtir” os desenhos e enviar mensagens diretas para os amigos. O jogo permite que você crie um ambiente positivo com suas respostas, que podem até levar a pequenas missões no fundo da história. Mesmo quando tinha a opção de ser um pouco mais cruel, eu não conseguia. Lidar com comentários maldosos na internet é algo que muitos de nós conhecemos bem.

Porém, “Videoverse” não ignora o lado ruim da internet. A Shark é um console que está envelhecendo, e com um modelo novo, a Dolphin, chegando, os desenvolvedores começam a se afastar da Videoverse. Isso faz com que a moderação diminua e mensagens de ódio, como insultos homofóbicos e desenhos inapropriados, comecem a aparecer. Um espaço que antes era seguro para muitos, onde podiam se expressar e escapar de problemas da vida real, de repente se torna tóxico e hostil. As tensões aumentam, as ansiedades transbordam, e as relações começam a se desgastar.

Essa representação é assustadoramente precisa, e é incrível como essa parte do mundo online cresceu nas últimas duas décadas. Mas “Videoverse” continua a ser um canto positivo diante do ódio. Eu sempre reportava as mensagens maldosas que via e tentava apoiar outros jogadores quando estavam se sentindo mal. A bondade sempre é a escolha certa aqui, e a escrita reflete com precisão o que era a comunicação em 2003. Eu era (e ainda sou) um usuário de emoticons felizes nos anos 2000 — mesmo que houvesse um pouco mais de XD e ^_^; do que (: — tudo está retratado em “Videoverse”, com erros de digitação e abreviações típicas da época.

A estética do jogo ajuda a trazer uma sensação nostálgica. A interface é toda em 1-bit, com cores vibrantes (e temas que você desbloqueia comentando e reportando), avatares personalizáveis e uma trilha sonora que evoca os antigos lobbies de jogos e espaços relaxantes. Um destaque especial vai para as cutscenes animadas de “Feudal Fantasy”, que ajudam a moldar toda a narrativa.

No entanto, jogar “Videoverse” no Switch pode ser um pouco complicado. Você pode usar os botões ou a tela sensível ao toque, mas ambos têm suas desvantagens. Controlar o cursor com o analógico é lento e, às vezes, ele desaparece no meio de uma conversa. A tela sensível é melhor, mas é fácil clicar na opção errada ou pular diálogos sem querer.

O núcleo da história é a relação de Emmett com uma nova usuária, Vivi, que chama sua atenção com suas artes incríveis. Eles formam uma amizade que começa tímida, mas rapidamente se transforma em algo especial. Eu tive uma amizade parecida com a de Emmett e Vivi, mesmo que com alguém que conhecia pessoalmente. Conversávamos quase exclusivamente pelo MSN Messenger (lembra dele?) e passávamos horas escrevendo histórias juntos e falando sobre a vida. Essa conexão me marcou muito.

A relação entre eles é emocionante, especialmente a insegurança de não saber se você deixou alguém chateado ou se não está acompanhando o que a pessoa está passando. O jogo capta isso de forma brilhante. A escrita é ótima, mas é nesse relacionamento que ela brilha, mostrando o que a comunidade e os videogames podem fazer pelas pessoas.

Claro, eu gostaria que algumas das outras relações de Emmett tivessem essa mesma profundidade. Por exemplo, MarKun666, que é fã de “Feudal Fantasy”; eles se conheceram na vida real e são próximos, sempre se motivando. Mas a relação deles não vai muito além disso. E Zalor, que está enfrentando problemas com sua namorada online, parece ter sua situação deixada de lado no final.

Mas isso faz parte da vida, certo? As pessoas seguem em frente, e às vezes você nunca descobre o que aconteceu com quem passou horas conversando ou lendo postagens. Eu perdi contato com muitos amigos que fiz online, e isso é uma lembrança assustadora da efemeridade do mundo digital. Mas essas conexões podem durar fora desse espaço, e, mais importante, o impacto delas certamente permanece. Eu não estaria onde estou hoje sem aquelas longas conversas no Messenger. Não teria um trabalho escrevendo sobre videogames se não tivesse jogado RuneScape online ou discutido “Tales of Symphonia” com desconhecidos em fóruns.

A internet pode parecer um buraco negro de ódio e conteúdo gerado por IA em 2025, e a indústria dos jogos está cheia de demissões e acusações de abuso no ambiente de trabalho. Mas eu me agarro à esperança e às relações humanas que formei nesses espaços. Por trás de cada avatar existe uma pessoa, e “Videoverse” valoriza essa ideia.

“Videoverse” é uma cápsula do tempo perfeita das comunidades online do começo dos anos 2000, lidando com assuntos difíceis, mas sempre abordando-os com um sorriso. Seu formato nostálgico é um verdadeiro presente para os Millennials que cresceram com um mouse ou console nas mãos e que fizeram amigos na internet. Embora eu desejasse um pouco mais de aprofundamento nas conversas com outros personagens, e apesar de o Switch talvez não ser a melhor plataforma para jogá-lo devido às dificuldades de controle, “Videoverse” é um bálsamo para a alma que o mundo online precisa mais do que nunca.