Banjo-Tooie é um verdadeiro pesadelo e eu não mudaria nada

Uma das razões pelas quais eu adoro a Rare da época do N64 é a forma como eles adoravam testar os limites. Eles se perguntavam: até onde podiam ir em um jogo de plataforma 3D divertido e cheio de charme? Banjo-Kazooie já tinha começado a explorar algumas ideias mais ousadas, com piadas que, embora sutis, traziam um toque de humor adulto. Lembra da famosa frase “How’s your nuts, bark breath?” Pois é, ela ganha um novo significado em um contexto mais maduro. E quando falamos de Banjo-Tooie, a sequência lançada em 1998, a situação fica ainda mais intensa. O jogo não hesita em deixar claro que a experiência seria bem diferente da anterior. Eu, por exemplo, me lembro até hoje de como fiquei apavorado com Clanker na primeira vez que o vi. E, acredite, Banjo-Tooie leva isso a um nível totalmente novo.

Desde o início, já dá para sentir que algo mudou. Enquanto Banjo-Kazooie começava com uma música alegre e animada, apresentando os personagens, Banjo-Tooie traz uma versão mais lenta e sombria da mesma melodia, enquanto a câmera passa pelo Lair abandonado de Gruntilda. A Rare poderia ter trazido a Grunty de volta como a mesma bruxa verde, mas não, agora ela é um esqueleto ambulante. E para quem acha que isso não é nada demais, em apenas 20 minutos de jogo, Gruntilda já comete um crime horrendo: ela queima o pobre Bottles, o tatu, e transforma o Rei Jingaling em um zumbi que ataca Banjo sem piedade.

Imagina a cena: eu, com apenas oito anos, deixei Banjo esperando em um lugar onde o rei zumbificado estava, e lembrei até das reclamações dele enquanto ele atacava o pobre do Banjo. Não esperava encontrar NPCs amigáveis se transformando em inimigos, mesmo que fossem mortos-vivos! Banjo-Tooie é cheio de momentos sombrios e perturbadores, e a introdução, junto com as primeiras seções da Isle O’ Hags, realmente prepara o clima. A Vila Jinjo abandonada, com um veículo HAG-1 atravessando uma das casas, é de arrepiar. Entrar na casa do Bottles e descobrir que o patriarca da família não está mais lá me deixou com um nó no estômago.

E as coisas não melhoram muito à medida que você explora os mundos do jogo. O templo de Mayahem pode parecer um dos cenários menos assustadores, mas a presença de Ssslumber, a cobra, sempre me deixava com um frio na barriga. Aquela seção onde você precisa se esgueirar várias vezes é um verdadeiro teste de nervos. E quando você se agarra a uma borda e é atacado por Snapdragons? Não, obrigado!

A variedade de níveis em Banjo-Tooie é bem mais sombria do que no primeiro jogo. As praias ensolaradas foram substituídas por uma lagoa ampla, onde criaturas marinhas assustadoras espreitam nas profundezas. Terrydactyland não tem espaço para jacarés, mas está repleta de lagartos e anfíbios gigantes. E mesmo que Rusty Bucket Bay me cause medo, os labirintos da Grunty Industries, com armadilhas perigosas e uma tocha de solda que se arrasta pelo chão, são ainda mais aterrorizantes.

Os chefes do jogo também são dignos de nota. Alguns deles são incrivelmente assustadores, como Targitzan, que tem olhos de joias que não piscam, ou Mingy Jongo, que te engana fazendo parecer que é Mumbo Jumbo antes de te atacar durante uma cena. E Mr. Patch, o dinossauro inflável de Witchyworld, é simplesmente bizarro. Por que dar dentes a um dinossauro de borracha? Esse cenário, com um picadeiro vazio e a música esquisita ao fundo, sempre me deixou nervoso.

Witchyworld é, na verdade, um dos meus mundos favoritos do jogo. A música é uma mistura de alegria e tristeza, enquanto o parque de diversões abandonado tem um visual perturbador. Céus vermelhos, cercas enferrujadas e funcionários mal-humorados criam um ambiente que é o oposto de um lugar divertido. Até os mascotes atacam!

Apesar de Banjo-Kazooie ter suas nuances sombrias, ele era mais leve na forma como abordava o medo. Banjo-Tooie, por outro lado, mergulha de cabeça em temas mais adultos, se permitindo explorar algumas piadas mais ousadas. E mesmo com todas as suas imperfeições, são esses momentos assustadores que ficaram na minha memória ao longo dos anos. A adrenalina ao escapar do Stomponadon e a primeira vez que encontrei um Minjo foram experiências de tirar o fôlego.

Se Banjo-Kazooie é como uma criança travessa testando os limites, Banjo-Tooie é a adolescência bagunçada, sempre pronta para surpreender e assustar. Às vezes, o jogo é pura adrenalina. Mas, no fundo, não mudaria nada nele.