Após 10 anos, Animal Crossing: Amiibo Festival é realmente tão ruim?
Em 2020, durante o início da pandemia global, poucos jogos conseguiram capturar a atenção das pessoas como Animal Crossing: New Horizons. Desde seu lançamento, o jogo vendeu impressionantes 48,62 milhões de cópias ao redor do mundo, elevando a série a um verdadeiro fenômeno cultural e garantindo seu espaço entre os maiores sucessos da Nintendo. Mas não é difícil lembrar que, antes desse sucesso estrondoso, a série passou por um momento bem complicado.
Lá atrás, Animal Crossing: Amiibo Festival para Wii U se tornou uma das entradas mais controversas da franquia, sendo até considerada uma das piores produções da Nintendo. O jogo foi criticado a ponto de ter sido mencionado como um fator que levou o YouTuber Scott the Woz a buscar terapia. Quando Amiibo Festival foi lançado, exatamente dez anos atrás, a Nintendo estava empolgada com a ideia de brinquedos que interagiam com os jogos. Após o sucesso de Animal Crossing: New Leaf no 3DS em 2013, as expectativas estavam lá em cima para um novo título que traria a série para os gráficos em HD no console de mesa.
No entanto, a realidade foi um balde de água fria. Os fãs ficaram decepcionados ao descobrir que, em vez de um novo jogo, a Nintendo optou por lançar um jogo de tabuleiro. As críticas foram duras, com muitos chamando-o de um jogo entediante, criticando seu preço, o ritmo lento e a dependência excessiva do escaneamento de amiibos. A má fama de Amiibo Festival sempre me intrigou. Há cerca de dois anos, quando encontrei uma cópia na liquidação, decidi experimentar e ver se era realmente tão ruim quanto diziam. Acabei comprando quase toda a linha de amiibos por alguns trocados.
Na época, minha impressão foi de que o jogo era relativamente inofensivo. Joguei com minha parceira e, para ser sincero, foi uma forma leve de reviver as vibrações de Animal Crossing, especialmente depois de passar mais de 200 horas cuidando da minha ilha em New Horizons. O fato de eu ter pago bem menos do que os R$ 299,90 cobrados no lançamento ajudou bastante. Com a chegada do décimo aniversário do jogo, achei que era hora de reavaliá-lo de verdade. Convidei três amigos — todos fãs de jogos de tabuleiro e jogadores dedicados de New Horizons — para uma noite de Amiibo Festival. Era o grupo ideal, o tipo de público que a Nintendo tinha em mente em 2015.
O jogo e suas nuances
Ninguém estava ali para criticar gratuitamente. Abordamos o jogo com mente aberta, curiosos para ver se o passar do tempo poderia revelar alguma qualidade escondida ou um charme negligenciado. O que encontramos foi um jogo que captura o espírito acolhedor de Animal Crossing perfeitamente. Mas, ao contrário de outros títulos multiplayer, como Mario Party, que misturam sorte com minijogos baseados em habilidade, Amiibo Festival depende da paciência dos jogadores. Como bem destacou um amigo durante a sessão, a mecânica do jogo se resume a: escanear, rolar e ler.
O jogo é jogado com um único GamePad do Wii U. Os jogadores se revezam escaneando suas figuras de amiibo para rolar os dados e mover seus personagens. Cada espaço no tabuleiro pode te dar ou tirar Pontos Felizes e Bells — que são como as Estrelas e Moedas de Mario Party — e acionar pequenas histórias em texto acompanhadas de breves animações. As histórias são fofas e estão bem alinhadas com a essência do jogo, mas não têm impacto no gameplay.
De vez em quando, alguns eventos quebram a monotonia. Personagens conhecidos aparecem em dias específicos, como Joan, a vendedora de nabos, que oferece uma mecânica ligeiramente interessante: você pode investir Bells em sua oferta de nabos e tentar vendê-los mais tarde, conforme os preços mudam nos espaços do tabuleiro. É uma pitada de estratégia em um jogo que, de outra forma, é bem automatizado.
Antes de começar uma rodada, você escolhe um mês do ano, e o tabuleiro reflete a estação correspondente. No inverno, a cidade fica coberta de neve; na primavera, flores de cerejeira brotam; e personagens sazonais, como Jack, o Czar do Halloween, aparecem em outubro. Mas, no fundo, é tudo uma reestruturação; a jogabilidade central permanece a mesma, não importa o mês. Após cada jogador completar seu movimento, o calendário do jogo avança um dia, e o ciclo se repete até o final do mês, quando os Bells se transformam em Pontos Felizes e um vencedor é declarado. O tempo total de uma partida com quatro jogadores foi de cerca de 75 minutos.
Duas opiniões, um jogo
No final da nossa sessão, as opiniões estavam divididas. Dois jogadores acharam o jogo divertido do jeito que era. “É fofo e relaxante”, disse um, elogiando a música alegre e as animações simpáticas. Outro comentou que a diversão estava mais em encará-lo como uma atividade interativa leve, algo para jogar enquanto conversavam e dividiam petiscos.
Por outro lado, alguns no grupo foram menos generosos. Um deles deu uma nota de “três ou quatro em dez”, admitindo que só se divertiu “porque estávamos todos juntos”, acrescentando que “a companhia foi divertida, mas o jogo não”. Quando chegou a hora de decidir uma nota final, a média do grupo ficou em torno de 5/10. Todos concordaram que o jogo não faz o suficiente para manter o jogador engajado. Perguntei se Amiibo Festival realmente merecia sua reputação de um dos piores jogos da Nintendo, e a divisão foi clara. Um concordou imediatamente, chamando-o de “definitivamente um dos piores que já joguei”. Outro, no entanto, achou que era “um pouco duro” e que “dava para ver que eles tentaram”. Para eles, o problema não era a falta de cuidado, mas sim a falta de jogo.
Realmente, Amiibo Festival pode ser um dos jogos de festa mais passivos já criados. A decisão de manter os minijogos separados da experiência principal pode explicar por que as jogadas pareceram monótonas. Mas é difícil afirmar que uma combinação das mecânicas tornaria a experiência mais divertida. Os oito minijogos disponíveis só podem ser acessados escaneando cartões amiibo e são desbloqueados gradualmente à medida que você joga o modo principal. Tentar encaixar esses minijogos no jogo de tabuleiro seria uma verdadeira missão impossível. Imagine ter que equilibrar um GamePad, uma figura amiibo e vários cartões que precisam ser escaneados no meio da rodada.
Esses minijogos isolados não são um espetáculo, mas definitivamente acrescentam algo ao pacote, mostrando que Amiibo Festival não é completamente desprovido de jogabilidade. O “Desert Island Escape” se destaca como uma experiência de sobrevivência em turnos, onde os jogadores coletam recursos, fabricam ferramentas e constroem uma jangada para escapar de uma ilha deserta. Outros, como Balloon Island e o Quiz Show, têm seu charme, mas muitos dependem de um escaneamento de amiibo que parece forçado e desnecessário.
A verdade é que Amiibo Festival parece mais um jogo criado para vender amiibos do que um jogo desenvolvido a partir da ideia de diversão. A sensação entre meu grupo de teste foi que a mecânica central — escanear figuras para rolar dados — soou como uma exigência de marketing, e não como uma ideia que surgiu do desejo de criar algo divertido. Todos concordaram que fazer isso a cada turno rapidamente se tornava tedioso.
Reflexões sobre o passado
Acredito que Amiibo Festival teria sido muito menos criticado se tivesse sido lançado de graça na eShop, como um complemento para quem comprou as coleções de amiibo e cartões de Animal Crossing. Assim, poderia ter sido lembrado como uma curiosidade inofensiva, em vez de um completo fracasso comercial. Uma década depois, Amiibo Festival parece um relíquia de uma época em que a Nintendo estava tentando encontrar seu caminho, convencida de que brinquedos interativos eram seu próximo grande passo. Mas não era.
Felizmente, a empresa — e a série — encontrou seu rumo. O sucesso estrondoso de New Horizons provou que não havia necessidade de artifícios. E, por mais decepcionante que tenha sido seu antecessor, não sinto que precisarei de terapia por causa disso.
