Quando ‘bom o suficiente’ se tornou aceitável para Pokémon?
Com o sucesso da série Pokémon, a alocação de recursos para o desenvolvimento dos jogos tem sido um assunto bastante debatido. Se Pokémon é a maior franquia do mundo, por que a The Pokémon Company não investe em orçamentos no nível de empresas como a Naughty Dog? Recentemente, um vazamento — ainda não confirmado — revelou que o orçamento de Pokémon Scarlet e Violet foi de aproximadamente 21,8 milhões de dólares.
Agora, para muitos desenvolvedores pequenos, esse valor seria um sonho. Mas, para jogos que vendem tanto, esse orçamento parece modesto se comparado aos jogos AAA em outras plataformas. Talvez esteja aí a questão: seja lá o que “AAA” signifique em 2025, Pokémon não parece se encaixar nesse rótulo. Será que já se encaixou algum dia?
Um dos principais problemas dos jogos mais recentes da franquia é a falta de ambição. Pode-se criticar Pokémon GO à vontade, mas ele trouxe algo novo e envolvente para o mundo dos jogos, quase uma década atrás, bem antes do lançamento do Switch. Eu mesmo acabei exagerando no jogo enquanto estava em Hong Kong, de tanto que ele despertou a minha curiosidade e alegria.
O fato de a The Pokémon Company ter dado uma pausa na série principal no ano passado parece ser uma admissão silenciosa de que estavam se repetindo, voltando com um balde sujo de água. Essa pausa foi uma decisão sensata para evitar uma saturação de produtos, como vimos em algumas franquias de super-heróis.
Mas será que o entusiasmo por Pokémon realmente está diminuindo? Os números iniciais de vendas sugerem que não, mas conversando com a equipe, a sensação geral não é tão positiva. Muitos comentam que as novas versões tentam transmitir uma sensação de liberdade, mas frequentemente interrompem essa experiência para explicar detalhes simples. A descoberta, que sempre foi uma parte mágica dos jogos, parece ter se perdido.
E não podemos esquecer que já não somos mais crianças; naturalmente, os novos jogadores são o foco da franquia. A cada geração, novos fãs chegam, e a The Pokémon Company não tem um grande incentivo para inovar quando o conceito de capturar todos os Pokémon ainda é tão viciante e lucrativo. É como se o doce nunca saísse de moda, e ninguém estivesse exigindo que as grandes marcas de chocolate reinventassem suas receitas.
Contrastando isso com a abordagem da Nintendo em relação ao Mario, vemos que a empresa enfatiza que os jogos do encanador só sobreviverão se evoluírem. O último jogo principal do Mario que realmente me surpreendeu foi o Wonder, provavelmente pela forma inovadora como apresentou novos elementos.
Por outro lado, jogos como Palworld, Cassette Beasts e Temtem mostram que desenvolvedores independentes estão ousando e explorando novas direções, mesmo que sejam inspirados em Pokémon. Esses jogos estão buscando algo diferente, e isso é refrescante.
A Game Freak também tenta trazer novidades, mesmo que a evolução seja lenta. Os novos mecanismos de batalha em Pokémon Legends: Arceus foram bem recebidos, e apesar de algumas ideias parecerem apenas tentativas de criar um novo jogo, a The Pokémon Company está experimentando.
E quanto ao futuro da franquia, bem, as informações estão se espalhando por aí. No entanto, parece que tanto os treinadores que se afastaram quanto os super fãs estão começando a aceitar que a situação é como é. Não é justo chamar de “desleixo” o trabalho dos desenvolvedores que se esforçam tanto, mas, olhando de fora, parece que eles merecem mais tempo e recursos. Os jogos podem até parecer que rodariam bem em um PS3, mas Pokémon conquistou o mundo desde o Game Boy em 1996. O verdadeiro problema é que a série parece mais uma máquina de fazer dinheiro do que uma busca por surpreender e encantar os jogadores. Ela poderia — e deveria — ser muito mais.
